Uma história verdadeira
Por: Lucas Soares.
Era apenas uma criança, não tinha mais do que 12 ou 13 anos. Seus cabelos eram negros e bagunçados, seus olhos possuíam uma cor de mel que combinava com sua pele que era morena e amarronzada. Suas roupas estavam surradas, se estivesse viva hoje, teria aproximadamente 17 anos.
O passado dela era desconhecido para todos, ainda pequena com 3 anos de idade, foi abandonada pelos pais. Depois disso, viveu com um casal e mais cinco crianças em um barraco em São Paulo.
Ao completar certa idade, seus pais começaram a explorá-la com trabalhos pesados. Sabendo que mais cedo ou mais tarde seria obrigada a se prostituir igual a menina mais velha que morava com ela, a melhor saída foi fugir e viver nas ruas.
Após algum tempo, acabou passando a morar embaixo de uma ponte que cortava um rio. Não era um lugar tão abandonado, principalmente por servir de “atalho” para pedestre que precisavam cruzar a ponte para acessar a rodovia no lado oposto.
Mesmo nessas condições, a menina conseguia dinheiro e comida das pessoas que ali passavam, o frio incomodava, mas não era nada que fizesse com que perdesse o sorriso de seu rosto ou a esperança que era refletida em seus olhos todas as manhãs.
Porém, aos poucos as pessoas deixaram de ajudar aquela garota que não tinha para onde ir. Foram semanas para que tudo se tornasse impercebível. A menina agora fazia parte do cenário, se estivesse lá não importava... Se não estivesse lá, poderiam notar, mas não haveria ninguém que sentiria sua falta.
O mês era julho, Emily estava bem mais magra do que o normal, fome e tristeza tentavam acompanha-la, mas sua esperança era mais forte, fazendo com que não se entregasse a dor de derramar suas lágrimas.
Foi em uma tarde nublada que um homem com aproximadamente 27 anos passou pela travessia da ponte com certa pressa, sem perceber deixou cair um envelope.
― Senhor, espere! – Era uma voz quase inaudível.
O homem se virou e avistou uma menina de pouco mais de 12 anos.
― Deixou cair isto. – A menina se aproximou com um pouco de vergonha e medo. – Acho que está com pressa.
― Obrigado! – O homem pegou o envelope e olhou seu relógio. – Estou com um pouco de pressa sim.
O homem continuou seu caminho, mas não demorou muito para ele voltar, uma forte chuva o obrigou e outros dois garotos de aparência estranha voltar para se abrigar embaixo da ponte.
A menina foi para um canto se isolando de todos, o homem estava muito elegante e ela não queria incomodá-lo.
― Você vive aqui? – O homem foi se aproximando da menina. – Você parece bem... Humilde.
― Sim! – A menina sorriu e fez menção de se afastar novamente, mas foi impedida.
― Não precisa ter medo de mim, não vou fazer nada com você.
― Não é isso. – A menina ficou vermelha. – É que estou toda suja, e não queria... Bem, você sabe.
― Não se preocupe. Mas parece que você não come nada há dias, as pessoas que passam aqui não te ajudam?
― Ninguém me ajuda e não quero obrigar ninguém a me ajudar.
― Mas pedir ajuda não quer dizer que você está obrigando alguém a te ajudar. – O homem sorriu e entregou uma bala para a menina. – É o melhor que tenho no momento.
― Obrigada! – A menina sorriu e depois mudou sua face novamente olhando de forma séria para o senhor que estava ao seu lado. – As pessoas não ajudam as outras por vontade de ajudar ou caridade, elas ajudam apenas se tiver alguém olhando para elas. Simplesmente ajudam para satisfazer seu próprio ego ou mostrar para quem estiver olhando que está ajudando a menina pobre que não tem onde morar.
O homem ficou em silêncio, pensou nas palavras daquela menina, no fundo ela estava cera, eram raras as pessoas que ajudavam pelo intuito de ajudar, a maioria realmente só ajudavam para dizer que ajudavam.
Os dois continuaram conversando até a chuva cessar. Antes de ir embora, Steve entregou uma nota de 50 reais para a menina e se despediu.
A menina viu o homem ir embora, em seguida, os outros dois rapazes que se abrigavam da chuva foram até ela.
Steve era advogado, casado, não tinha filhos. Morava em outra cidade, mas estava em São Paulo para comprar uma segunda casa para poder alugar e obter uma segunda renda. Ao chegar à casa de seus pais, onde estava se hospedando, foi falar com sua mulher.
Enquanto conversavam, Mariah percebeu certa empolgação em seu marido. Ele parecia bem mais alegre, normalmente estaria acostumado a estar sempre estressado.
No outro dia, Mariah conversou com Steve sobre a menina e pediu para ele trazer ela para ajuda-la de alguma forma, dar banho e comida pra ela.
Steve foi até a travessia da ponte, mas não encontrou a menina. Durante duas semanas ele passou todos os dias pelo mesmo local para tentar encontrar Emily, porém suas buscas foram em vão.
· Steve nunca mais encontrou Emily.
· Com o dinheiro que iria ser usado para a compra de outra casa, Steve e Mariah construíram um abriga para ajudar crianças carentes.
· Hoje o Instituto Emily abriga mais de 1000 crianças em todas as suas sedes espalhadas por São Paulo
· O principal objetivo do Instituto é tirar as crianças que vivem nas ruas e dar apoio para que possam ter uma vida normal e recursos para construírem sua própria vida.
· Emily morreu no dia em que conheceu Steve, seu corpo não foi encontrado até hoje. Se nada tivesse lhe acontecido, Steve e Mariah iriam ajuda-la e cuidar dela.
· Segundo autoridades, dois garotos foram presos e confessaram terem matado uma menina para lhe roubar uma nota de 50 reais.
Esta história é baseada em fatos irreais. Não existe o Instituto Emily, nem os personagens citados na história. Mas o fato é que só ajudamos as outras pessoas para satisfazermos nosso ego ou para demonstrar às demais pessoas que somos gentis e ajudamos ou outros. Toda ajuda é bem vinda, mas a verdadeira ajuda é aquela feita de coração por caridade. Milhares de pessoas necessitam de ajuda, outros milhões precisam e não admitem. Não se apegue a bem materiais, às vezes, um sorriso já é o bastante para alegrar alguém. Mas lembre-se também que não podemos deixar pra fazer amanhã o que podemos fazer hoje, pois, pode ser tarde demais. Então quando vir alguém que precise de ajuda e perceber que você pode fazer algo. Faça! Independente se alguém vai te reconhecer ou não, faça isso para provar a si mesmo que você está vivo.